collective exhibition | MANUELA PIMENTEL & JAS | GALERIA CISTERNA | 14 DE MARÇO – 6 DE MAIO 2020 | LISBOA [PORTUGAL]

inquietação

Um diálogo entre dois artistas. Uma dança entre dois amores.

“Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer. Qualquer coisa que eu [nós] devia [víamos]perceber.” AInquietação eternizada por José Mário Branco acende a fagulha para a inquietação compartilhada por Manuela Pimentel e JAS diante da constatação de que “o Mundo é um modo assumido de relação com o outro”.

A presente exposição é fruto de uma provocação aceite pelos autores com vista a entrever de que forma as obras de cada um podem (ou não) habitar um mesmo espaço. Sem regras nem conceitos pré- concebidos, Inquietação é, antes de mais, o produto de um exercício curatorial a que os artistas se propõem. Lançar um renovado olhar para diferentes momentos de seus percursos artísticos, de modo a que os seus trabalhos interagissem com a arquitetura do espaço expositivo, constitui-se como um desafio inquietante.

Aproximando-se da inquietação de José Mário Branco, a pintura de Manuela Pimentel e JAS nasce do incómodo, do inconformismo, da contestação, da resistência – ou será da insistência? – em viver de e para a arte. Assim como acordes dissonantes, resulta também do olhar generoso para a beleza que se depreende do mundo e das pequenas alegrias cotidianas. O que transparece emInquietaçãoé justamente a dissonância. Beleza, encanto, deformidade, conforto, desconforto, equilíbrio, afinidade, instabilidade. Um compêndio de oscilações de obras que vibram em diferentes frequências e que, talvez por isso, teimam em intrigar, inquietar, incomodar e arrebatar. Um arquétipo da amálgama de harmonias e desarmonias que cadenciam a nossa existência. A arte de Manuela e JAS cumpre aqui o decisivo papel de nos permitir escapar e transpor a realidade, propõe um habitar poético do mundo.

Nesse cenário imaginado, em que o artista é a origem da obra e a obra é a origem do artista, como atesta Heidegger, o ser revela-se na relação com o outro. Em Inquietação, é justamente pela relação com o outro que a obra de Manuela e JAS adquire novos contornos, deslocando-se do sentido original. Os trabalhos rearranjam-se, entrelaçam-se no espaço da convivência e da admiração mútua.

Mais do que um projeto fechado, encerrado, resolvido, Inquietação revela-se um work in progress, um processo dinâmico, uma tese curatorial em evolução. Um exercício de olhar, de afetos, de tentativa e erro. Um jogo de pensar: como a inquietação que impulsiona e incomoda os autores afeta o público, desinquietando o espectador, ora pela beleza, ora pelo contraste. É nessa dualidade que a exposição se insere.

Tatiana Engelbrecht

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