O PURO E O ÍMPIO

1-Arquipélago_project-.-100x64cm-.-oil-on-paper---_2019_

 

2-Arquipélago_project-.-100x64cm-.-oil-on-paper---_2019_

 

3-Arquipélago_project-.-100x64cm-.-oil-on-paper---_2019_

 

4-Arquipélago_project-.-100x64cm-.-oil-on-paper---_2019_

 

Memórias de uma viagem 

“I do things because things Happen.” Este projeto integra memórias de uma viagem a Moçambique.

 Duas semanas depois do Ciclone Idai ter evadido alguns territórios Moçambicanos o meu trabalho fica enclausurado dentro de uma memória obstinada de produção sonífera. 

O Ciclone Idai. 

Foi um acontecimento que me deixou enleado e muito instigado para compor nesse sentido. Nessas duas semanas desenvolvi dois projetos que se intitulam, Arquipélago e outro Eclipse; estes são meras  reflexões sobre o que tinha acabado de acontecer. Produzi diversas peças em papel japonês e papel lokta, a partir de matrizes já existentes e outras encontradas na praia. Metaforicamente as matrizes representam ilhas; quando reunidas formam arquipélagos. Elas alternam-se em diferentes ritmos, habitando espaços através da repetição,  peculiarizando uma textura de sobreposições. Um reagrupar do território. Desenvolvi 5 paisagens (5#arquipélagos) através da repetição que alternadas em diferentes posições constroem ritmos pictóricos discordantes. Em paralelo a este projeto surge outro que se chama #eclipse, no sentido de explorar diversos sistemas lunares. Um desastre natural está sempre vinculado à ocorrência de determinados fenômenos naturais. Contudo, decidi representar diversos sistemas lunares no seguimento metafórico que a lua poderia ter sido influencia energética neste acontecimento. As marés na Terra são essencialmente provocadas pela variação de intensidade da força gravitacional da Lua de um lado para o outro do planeta. Nesta continuidade  fui criando uma perspectiva de ruptura através de sobreposições e alterações descontinuadas que formam este registo, ao qual chamo #eclipse. Duas semanas depois do Ciclone Idai ter atingido a cidade da Beira em  Moçambique, levei este projeto para Maputo com outra Artista (Manuela Pimentel) que criou em “uníssono" um dialogo plástico com esta sequência.

Já em Moçambique e sem nunca ter conhecido o continente Africano, foi-nos proposto uma residência artística em diversos territórios onde iríamos  “beber” inspiração para um futuro projeto, desta vez com uma emersão mais densa e enraizada sobre o sabor destas terras. 

O Puro e o Ímpio surge porque existe a "belíssima intenção de nos conhecermos e de nos apoiarmos. A arte é potenciação. Ela toma o que pode ser pouco e propõe o infinito.”

Contrariamente ao que foi exposto em Maputo, Maré Cheia (titulo da exposição) "é uma alusão à tragédia moçambicana que comove e mobiliza o mundo inteiro, mas pode significar também essa ideia de que a arte é, se assim o quiser, uma abundância onde se acolhe o outro. Com estas obras, Manuela Pimentel e JAS acolhem Moçambique e sua tragédia, acolhem cada pessoa, como se dentro de uma obra de arte pudesse haver redenção, pudesse haver a simples manifestação protectora da paz e da compaixão.”

Nesta Exposição e como refere Valter Hugo Mãe, “(…)Seu desajuste é mais um modo de buscar novas realidades do que apaziguar com a realidade evidente. Na contingência de sermos efémeros, fugazes, pressentir que entendemos a perturbação essencial é algo que devemos recordar sempre, e com isso nos alegrar. O sentido do que é difícil é a condução a uma alegria muito maior.(…)”

JAS

5-Arquipélago_project-.-100x64cm-.-oil-on-paper---_2019_

Sequence 5 Rice Paper  | Arquipélago_project . 100x64cm . oil on Rice paper   |2019| 

O Puro e o Ímpio

 

O mundo, o artista, a própria ruína

sobre o trabalho de JAS

 

Valter Hugo Mãe

 

"Sabe-nos bem a beleza 

porque a sua dança volúvel 

é o ritmo das nossas vidas. 

Gostamos da sabedoria 

porque não temos sempre de a acabar. 

No eterno tudo está feito e concluído, 

mas as flores da ilusão terrena 

são eternamente frescas, 

por causa da morte. 

Irmão, recorda isto, e alegra-te."

 

Rabindranath Tagore

 

 

 

Alguns artistas frequentam o mundo como elemento que contamina tudo. Fazem-se de uma sensibilidade extrema, catalisadora, e reagem àquilo que os impressiona por estrita função vital, vivem de uma fúria e de uma folia que se apoderam meticulosamente de quanto há. Assim, JAS. O seu trabalho é a revelação de uma inscrição imparável que alude a lugares e matérias, alude a pessoas e outras obras mais ou menos canónicas, discute como tudo se apresenta estético e ético, como não há dimensão alguma que escape às ganas de repensar e refazer, até que estejamos diante de outra coisa, outra realidade e outra humanidade.

 O que JAS faz tem um sentido profundo de esperança. Não exactamente pelo aspecto linear de denunciar admiração, acusar ou cuidar, mas porque fita a possibilidade de um novo paradigma humano. Todo o seu gesto é um compromisso com essa ansiedade de equilíbrio que a contemporaneidade não contém. Somos agentes do belo e do feio, de algum modo, nada escapa a um lado lunar e outro solar, como os despojos naufragados gravados nas obras junto do que se esculpe cuidadosamente. Entre o acaso, como o tosco, e o brio da mão treinada, se define a última atitude: a assunção desassombrada de que somos o esplendor possível já ferido de sua própria ruína. Somos a vida e já o discurso de nossa própria morte. A narrativa que se perde e a narrativa que sobrará. Tão belos e feios ao mesmo tempo, procurando que o equilíbrio nos justifique e, mais ainda, nos dignifique. A esperança para que aponta o trabalho de JAS é rigorosamente aferida pela oportunidade de nos dignificar. Existimos para nos dignificarmos.

 O convívio do que pode respeitar ao Japão ou à Tailândia com a desgraça moçambicana ou com o sensual de Vénus, a dos Uffizi, desse Botticelli que vive no imaginário da inteira população mundial, esse convívio entre os papeis de plantas invulgares com as coisas que se apanham no chão, na areia, o resto de um objecto debitado, convidado a ser outro, é a identidade do artista. É o artista fazendo essa inscrição de que falava, como se assinasse a autoria possível do que se herda do mundo, como se assinasse o mundo, a sua vez na bravura de existir, herdando as ervas invulgares e a dor das pessoas da Beira, o despudor de Vénus e o aparato de Florença inteira. Em cada obra, como ideias elencadas, JAS toma posse de tudo propondo esse jogo a que chamo de bravo: tão vibrante quanto feito de sua própria ruína. 

 É, pois, sobre o puro e o ímpio que estas obras se inclinam. São a junção lúcida de que toda a beleza haverá de revelar sua ferida. Não importa se por defeito seu ou nosso, todas as coisas estão vocacionadas a falhar em algum instante, incapazes de serem o bastante. Incapazes de nos salvarem da condição precária, mortal, em que produzimos cada emoção e cada pensamento. Quando vejo o que JAS faz ocorre-me esta fragilidade que nos define, não podemos tudo. Obstinados, porém, com a necessidade de poder alguma coisa. Talvez a sua Vénus se ressinta por tanto tempo no uso do imaginário lascivo das pessoas, talvez nos pareça um corpo finalmente perturbado. Todas as obras de arte acabam por o ser. Todas as obras de arte são matérias perturbadas. Só isso as justifica e comprova. Seu desajuste é mais um modo de buscar novas realidades do que apaziguar com a realidade evidente. Na contingência de sermos efémeros, fugazes, pressentir que entendemos a perturbação essencial é algo que devemos recordar sempre, e com isso nos alegrar. O sentido do que é difícil é a condução a uma alegria muito maior.

Valter Hugo Mãe 

eclipse1

 

eclipse9

 

eclipse8

 

eclipse7

 

eclipse6

 

eclipse5

 

eclipse4

 

eclipse3

 

eclipse2

 

Sequence 6 Lokta papers ECLIPSE_project . Oil on Lokta paper . 53x76cm  |2019|


35.-ECLIPSE--.-OIL-ON-RICE-PAPER-.-100x70cm-_2019_ECLIPSE  . OIL ON RICE PAPER . 100x70cm |2019|



6---when-a-woman-watered-the-plants-.-Acrylic-on-canvas-.-200x160cm-2019when a woman watered the plants . Acrylic on canvas . 200x160cm 2019


3---My-first-time-in-África-.-Acrylic,-paper,-oil-and-charcoal-on-canvas-My first time in África . Acrylic, paper, oil and charcoal on canvas . 150x200cm 2019


2---My-first-time-in-África-.-Acrylic,-charcoal-and-paper-on-canvas-.-150x200cm-2019My first time in África . Acrylic, charcoal and paper on canvas . 150x200cm 2019


1---DHOW-(dedico-esta-obra-a-todos-os-habitantes-da-ilha-de-MOçambique)-Acrylic-and-charcoal-on-canvas-.-150x200cm-2019DHOW (dedico esta obra a todos os habitantes da ilha de MOçambique) Acrylic and charcoal on canvas . 150x200cm 2019


5---Vênus-.-oil,-acrylic-and-charcoal-on-canvas-.-130x150cm-2019Vênus . oil, acrylic and charcoal on canvas . 130x150cm 2019

Leave a Comment!

Your email address will not be published. Required fields are marked *