Memórias de uma viagem
“I do things because things Happen.” Este projeto integra memórias de uma viagem a Moçambique.
Duas semanas depois do Ciclone Idai ter evadido alguns territórios Moçambicanos o meu trabalho fica enclausurado dentro de uma memória obstinada de produção sonífera.
O Ciclone Idai.
Foi um acontecimento que me deixou enleado e muito instigado para compor nesse sentido. Nessas duas semanas desenvolvi dois projetos que se intitulam, Arquipélago e outro Eclipse; estes são meras reflexões sobre o que tinha acabado de acontecer. Produzi diversas peças em papel japonês e papel lokta, a partir de matrizes já existentes e outras encontradas na praia. Metaforicamente as matrizes representam ilhas; quando reunidas formam arquipélagos. Elas alternam-se em diferentes ritmos, habitando espaços através da repetição, peculiarizando uma textura de sobreposições. Um reagrupar do território. Desenvolvi 5 paisagens (5#arquipélagos) através da repetição que alternadas em diferentes posições constroem ritmos pictóricos discordantes. Em paralelo a este projeto surge outro que se chama #eclipse, no sentido de explorar diversos sistemas lunares. Um desastre natural está sempre vinculado à ocorrência de determinados fenômenos naturais. Contudo, decidi representar diversos sistemas lunares no seguimento metafórico que a lua poderia ter sido influencia energética neste acontecimento. As marés na Terra são essencialmente provocadas pela variação de intensidade da força gravitacional da Lua de um lado para o outro do planeta. Nesta continuidade fui criando uma perspectiva de ruptura através de sobreposições e alterações descontinuadas que formam este registo, ao qual chamo #eclipse. Duas semanas depois do Ciclone Idai ter atingido a cidade da Beira em Moçambique, levei este projeto para Maputo com outra Artista (Manuela Pimentel) que criou em “uníssono” um dialogo plástico com esta sequência.
Já em Moçambique e sem nunca ter conhecido o continente Africano, foi-nos proposto uma residência artística em diversos territórios onde iríamos “beber” inspiração para um futuro projeto, desta vez com uma emersão mais densa e enraizada sobre o sabor destas terras.
O Puro e o Ímpio surge porque existe a “belíssima intenção de nos conhecermos e de nos apoiarmos. A arte é potenciação. Ela toma o que pode ser pouco e propõe o infinito.”
Ao contrario do resultado exposto em Maputo, Maré Cheia (titulo da exposição) “é uma alusão à tragédia moçambicana que comove e mobiliza o mundo inteiro, mas pode significar também essa ideia de que a arte é, se assim o quiser, uma abundância onde se acolhe o outro. Com estas obras, Manuela Pimentel e JAS acolhem Moçambique e sua tragédia, acolhem cada pessoa, como se dentro de uma obra de arte pudesse haver redenção, pudesse haver a simples manifestação protectora da paz e da compaixão.”
Nesta Exposição e como refere Valter Hugo Mãe, “(…)Seu desajuste é mais um modo de buscar novas realidades do que apaziguar com a realidade evidente. Na contingência de sermos efémeros, fugazes, pressentir que entendemos a perturbação essencial é algo que devemos recordar sempre, e com isso nos alegrar. O sentido do que é difícil é a condução a uma alegria muito maior.(…)”
JAS